NOTA PÚBLICA

29 de Abril de 2010

NOTA PÚBLICA

A morte de Michele Santos do Anjos, no último dia 27, em João Pessoa, alerta a sociedade para importância da doença falciforme na saúde pública. A família tem dúvidas se a vacina contra H1N1 não teria desencadeado o agravamento do estado de saúde da jovem mãe de apenas 19 anos.

O Ministério da Saúde não tem notícia de outro caso semelhante. Os imunologistas dizem que a vacina não provoca septicemia, porque é produzida a partir de componentes mortos do vírus. De qualquer forma, fica o alerta aos portadores da doença falciforme, que só devem tomar a vacina com uma pré-avaliação dos hematologistas que os acompanha.

Seria prudente avaliar o lote de vacinas para investigar qualquer indício de alteração na composição do medicamento. Descartada a hipótese de ter sido a própria vacina a desencadeadora do quadro que levou Michele à morte, as autoridades de saúde terão que investigar as condições biomédicas em que a jovem se encontrava no período em que foi vacinada.

Já se sabe, por exemplo, que pessoas com baixas taxas da hemoglobina fetal estariam em condições não ideais de passar por cirurgias, por exemplo. A doença falciforme tem implicação direta com o comprometimento pulmonar, sendo muito comum o surgimento de pneumonias nos portadores da doença.

É preciso ressaltar ainda as condições do atendimento da Michele em sua última internação. O Edson Ramalho é uma unidade com problemas antigos de infecção hospitalar. Além disso, o hospital não é referência para anemia falciforme na rede estadual. Os hospitais-referência para a doença falciforme em João Pessoa são o Hospital de Trauma e o Arlinda Marques, no caso de pediatria. No âmbito municipal, os hospitais de referência são o Trauminha, em Mangabeira, e o hospital do Valentina Figueiredo, esse também destinado apenas para as crianças. A cidade ainda dispõe como referência do tratamento em doença falciforme do Hospital Universitário Lauro Wanderlei, o HU da UFPB. Talvez Michele teria mais chances se tivesse sido internada numa das unidades citadas acima. Talvez não.

O fato é que a doença falciforme, atingindo mais fortemente as pessoas negras e afrodescendentes, continua invisibilizada na rede pública de Saúde. Há mais de três anos essa Associação vem pedindo providências às secretarias de saúde a implementação de programas de atenção integral às pessoas com esse tipo de hemoglobinopatia.

Recentemente conseguimos fazer com que a Secretaria do Estado da Saúde anunciasse a implementação da segunda fase do teste do pezinho. A triagem neonatal é um forte aliado no tratamento precoce de bebês que nascem com anemia falciforme.

Mas não basta fazer a triagem dos recém-nascido: é preciso que os serviços públicos de saúde na Paraíba, a exemplo do que já ocorre em Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Pernambuco, constituam programas especiais de atenção às pessoas adultas que convivem com a doença falciforme, inclusive realizam a busca ativa dos portadores mais velhos.

No ano em que comemoramos 100 anos do primeiro diagnóstico da doença falciforme, óbitos como o de Michele Santos são uma afronta à dignidade humana e à cidadania. Em menos de um ano, essa é a segunda vítima das conseqüências do agravamento da doença falciforme.

A ASPPAH vai dar todo apoio à família de Michele dos Anjos para que sua morte seja detalhadamente explicada. Não podemos ficar mais omissos!


Coordenador vai compor CEPIR

29 de Abril de 2010


Representantes de entidades negras da Paraíba escolheram no último sábado, 24, no auditório da Federação do Comércio (FECOMÉRCIO), os últimos cinco conselheiros (e seus respectivos suplentes) para a instalação do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (CEPIR). A assembléia foi um requisito previsto na Lei Estadual nº  8.981, de 15 de dezembro de 2009, que institui o CEPIR.
Os titulares escolhidos são a pedagoga Fátima Solange Cavalcanti, representante da Pastoral Afro-brasileira, o jornalista Dalmo Oliveira, coordenador-geral da Associação Paraibana dos Portadores de Anemias Hereditárias (ASPPAH),  Clariana Cendy, representante do Fórum Paraibano de Promoção da Igualdade Racial (FOPPIR), a enfermeira Fernanda Benvenutty, da Associação dos Travestis da Paraíba (Astrapa) e o historiador Jair Silva, líder do Movimento Negro de Campina Grande.
A plenária também escolheu cinco suplentes: Paulo César, do Centro de Estudos do Negro (CEN), da cidade de Sousa, o historiador Valber Almeida de Matos, da Associação Cultural, Educacional e Ambiental (ASCA), da cidade de Aparecida, Sandra Kalyne, presidente da Central Única das Favelas, sessão Paraíba (CUFA-PB), a jornalista Sonia Lima, coordenadora da ONG Liberta e o também jornalista Moisés Alves da Silva, do Movimento Negro de Campina Grande.
O evento iniciou com uma mística de abertura, realizada por membros da Juventude Negra, ocorreu uma primeira mesa, com as falas institucionais da secretária de Estado Gilcélia Figueiredo (SEDH), da representante da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial do Governo Federal (SEPPIR), Oraida Almeida e da conselheira Ebomy Conceição Reis de Ógùn, do Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-Brasileira (Intecab) representando o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR). A mesa foi coordenada por Maria Marques, da coordenadoria dos Movimentos Sociais da SEDH.
Em seguida, outra mesa foi montada com convidados que falaram da história e lutas dos movimentos sociais negros no estado da Paraíba. O primeiro convidado desta mesa foi o coordenador da ONG Malungus, Carlos Henriques, que fez um detalhado histórico do movimento negro, relembrando antigos  militantes fundadores e os momentos históricos deste segmento social no estado e no país.
Em seguida, falou a advogada Luciene Araújo, membro da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica, secção Paraíba. Ela falou da consolidação dos conselhos de direitos da sociedade civil organizada e da importância do controle social nestas instâncias.
Por último falou o geneticista Antonio Novaes, da Universidade Federal da Paraíba e do Instituto de Referências Étnicas (IRE), abordando, principalmente, a questão das políticas afirmativas para negros dentro das universidades públicas. A mesa foi coordenada pela historiadora e professora da Universidade Estadual da Paraíba, Vania Fonseca.
O momento tenso da plenária ocorreu quando da votação do regulamento interno da assembléia. Para coordenar os trabalhos foram convidados Oraida Almeida, Ebomy Conceição e o ativista Vandinho de Carvalho. O primeiro impasse se deu quando se tentava discutir critérios de credenciamento para participação no evento. Representantes da ONG Bamidelê contestaram a presença de representantes de religiões de matriz africana e de capoeiristas. Depois de uma longa sucessão de falas, apartes e questões de ordem, a mesa coordenadora teve dificuldades para concluir os trabalhos, mas no final prevaleceu o bom senso, e a escolha dos conselheiros pode ser concluída, com a disputa entre duas chapas compostas de dez pessoas cada uma.
A chapa vencedora, articulada em torno do Fórum Paraibano de Promoção da Igualdade Racial (FOPPIR), obteve 47 votos, enquanto a chapa articulada pelas entidades que compõem o Movimento Negro Organizado da Paraíba (MNOPB), obteve apenas 16 votos.
O CEPIR será composto, em sua totalidade, por 24 conselheiros, sendo 12 indicados diretamente pelo governo estadual e 12 indicados pelos movimentos sociais negros, pelas comunidades tradicionais negras, povos indígenas e povos ciganos.

foto: Dalmo Oliveira

foto: Flauber


foto: Dalmo Oliveira



Na foto de cima,a mesa com as autoridades: Gilcélia Figueiredo  e Mariah Marques (SEDH), Oraida Almeida (SEPPIR) e Obamy Conceição (CNAPIR); Na imagem do meio alguns dos conselheiros escolhidos: Paulo, Dalmo, Moiséis, Jair, Walber, Fátima e Fernanda; Embaixo, Antonio Novaes (UFPB), Vania Fonseca (UEPB), Luciene Araújo (ABMJ) e Carlos Henriques da Malungos.



Paraíba terá eventos sobre DF para marcar 100 anos do diagnóstico da doença

15 de Abril de 2010

Dr. Gildásio vai avaliar pessoas com DF na Paraíba (foto: Fabiana Veloso)

Os coordenadores da ASPPAH, Dalmo Oliveira, Marcelo Cidalina e Zuma Nunes, participaram nesta quarta-feira, 14, de uma importante reunião na Secretaria de Saúde do Estado. Na pauta três eventos que vão tratar diretamente do avanço de cuidados às pessoas com a doença falciforme na Paraíba.

O primeiro deles é o Seminário Estadual de Saúde Integral da População Negra, que deve ocorrer nos próximos dias 3 e 4 de maio, provavelmente no Hotel Ouro Branco, na capital paraibana. O evento é uma demanda do Conselho Estadual de Saúde e deve reunir cerca de 200 pessoas, entre usuários do SUS, gestores e profissionais da saúde para tratar de temas diretamente ligados à saúde dos afroparaibanos, especialmente doença falciforme, glaucoma, hipertensão arterial, saúde reprodutiva das mulheres entre outras patologias que acometem sobremaneira pessoas com ascendência africana.

Para o mês de junho, ainda sem data precisa, está sendo organizado um evento específico na área de feridas e úlceras, com a vinda do ortopedista Gildásio Daltro, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal da Bahia e de outros especialistas. Daltro vem à Paraíba falar de suas experiências sobre o uso de células-tronco no tratamento de necrose da cabeça do fêmur e na cicatrização de feridas e úlceras de pernas de difícil cicatrização, comuns em pessoas com doença falciforme e diabetes.

“O médico baiano deverá examinar aqui pessoas com doença falciforme que estejam desenvolvendo, em fase inicial, a necrose no fêmur”, diz o jornalista Dalmo Oliveira, coordenador da ASPPAH, ele mesmo tendo passado pelo tratamento gênico há cerca de três meses em Salvador.

O grupo ainda decidiu agendar para julho um evento sobre a nova fase da triagem neonatal na rede estadual, para os servidores que lidam diretamente com o teste do pezinho. “É que a Paraíba finalmente ingressou na segunda fase do teste do pezinho, onde é feito o exame que detecta a anemia falciforme”, comenta Marcelo Cidalina, outro coordenador da entidade presente à reunião.

Lei municipal

A reunião contou ainda com a presença de assessores do vereador Bira (PSB), que deve apresentar à Câmara de João Pessoa, nas próximas semanas, um projeto de lei criando o Programa Municipal de Atenção Integral às Pessoas com Doença Falciforme. “O projeto visa dar respaldo legal e político para que a secretaria municipal de saúde ponha em funcionamento uma rede especial de atenção a essas pessoas na nossa capital, como já ocorre em Olinda, Recife e Salvador, por exemplo”, diz o pedagogo Zuma Nunes, também da coordenação da associação.

A reunião também mostrou que, se depender dos servidores municipais e estaduais comprometidos com os projetos da ASPPAH, em curto prazo a rede pública de saúde vai dar respostas mais rápidas e mais adequadas no tratamento desta doença, que pelo fato de atingir, majoritariamente, a população afrodescendente, continua com uma forte carga de invisibilidade na Paraíba.

“Todas as atividades realizadas pela ASPPAH em 2010 estarão inseridas dentro do calendário de atividades em comemoração pelos 100 anos do primeiro diagnóstico da anemia falciforme no mundo, numa vasta programação nacional coordenada pelo Ministério da Saúde”, acrescenta Oliveira.