Obrigado*

22 de Setembro de 2010
Estou perto de completar 39 anos. Se me perguntassem há dez anos se eu me imaginava aqui, a resposta provavelmente seria não.
Mas também, se me perguntarem daqui a dez anos se eu sei onde vou estar, a resposta seria igualmente “não”.
Procuro viver intensamente cada dia.
Tem dias que eu acordo assim, o simples trabalho de varrer a minha casa demanda muito esforço. Acordo cansadíssima, e cada pequeno esforço é uma luta. Que eu travo arduamente, sem reclamar. Porque tem dias que eu também acordo cheia de disposição pronta para fazer muitas coisas.
As vezes me entristeço de pensar que talvez não possa mais trabalhar como fazia, com rotina de escritório, sair de casa e tudo mais.
Construi uma bonita carreira e trabalhei muito desde os 18 anos. Por conta da falciforme e de todas as sequelas das inúmeras crises fiquei muito doente e debilitada. Hoje é assim, tem dias ótimos, tem dias nem tanto, tem dias péssimos.
Por isso que vou vivendo um dia por vez.
Me esforço para manter um trabalho de divulgação da anemia falciforme, mesmo que seja somente na internet, onde tenho espaço e posso dividir o pouquíssimo que sei.
Leio, pesquiso, posto na comunidade do orkut, converso com as pessoas, portadores, mães, pais, cuidadores.
Tento conhecer outras histórias, sabendo que cada um vive e enfrenta a falciforme de uma maneira.
Somos todos muito diferentes apesar de sermos todos muito parecidos. Reagimos de maneiras diversas, enfrentamos os desafios com garra.
Não dá pra negar que muitas vezes nos cansamos de lutar, de travar essa batalha contra a dor, contra o amarelo dos olhos, contra o preconceito, contra tudo.
Eu mesma passo por isso tantas vezes.
Muitas vezes me pergunto porque a falciforme é tão pouco divulgada, tão pouco debatida. Porque as pessoas não falam sobre ela?
Porque não existem campanhas sérias de esclarecimento?
Pra essa pergunta não existe uma resposta padrão, não tem um ponto estratégico que explique o porque disso. A verdade é que algumas vezes acho que somos invisíveis, e algumas vezes acho que existe tanta dor e tanta doença, que a falciforme é só mais uma, que precisa de apoio, de esclarecimento.
Não é fácil viver como um paciente crônico. Saber que você vai passar a vida entre hospitais, laboratórios, consultórios. Vai passar o tempo todo procurando tratamentos,testando remédios, escutando estatísticas.
Não é fácil conviver com a dor, com o medo estampado nos olhos de quem a gente ama, com a angústia da espera, com a esperança de cura.
É inevitável se encantar por tratamentos alternativos, se iludir com cada novo programa de estudo que se inicia.
É natural. É saudável. É dolorido.
Os episódios de depressão vem e vão, e temos que aprender a lidar com eles. Imagino as mães e pais, os maridos e esposas, os filhos de quem vive assim, um dia por vez. Imagino a esperança, a sofreguidão, a luta.
Não podemos desistir. Porque a vida é assim mesmo, cheia de escolhas e cheia de lutas, sejam elas acertadas ou inglórias, e precisamos lidar com isso, todo dia, todo santo dia.
Precisamos lembrar de agradecer a esses “anjos” de carne e osso, que dispõem de toda sua energia e de todo seu amor por nós, que enxugam as nossas lágrimas, acalmam as nossas dores, nos alegram nas horas mais difíceis.
Eles são os nossos maiores presentes, os nossos amores, nosso alicerce nessa grande roda da vida.
Pros meus anjos, sejam eles de carne e osso ou não, aqueles que eu vejo diariamente ou os que me velam sem que eu os perceba, o meu sincero amor, o meu mais precioso obrigado.
Eu não seria ninguém sem vocês.
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*Texto de Menina Nina, publicado originalmente em: http://anemiafalciforme.blogspot.com/2010/09/obrigado.html

Rádios comunitárias vão divulgar campanha

13 de Setembro de 2010

Campanha foi divulgada no Congresso Estadual da ABRAÇO-PB (foto: Fabiana Veloso)

Emissoras de rádio comunitárias de todo país estão sendo convocadas a aderir à campanha em comemoração aos 100 anos do primeiro relato da doença falciforme no mundo. Através da internet, radialistas comunitários vinculados à Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (ABRAÇO), receberam relises e spots de áudio, produzidos pela Diretoria de Comunicação da FENAFAL e pela Assessoria de Comunicação do Ministério da Saúde.

Segundo o jornalista e diretor de Comunicação Social da FENAFAL, Dalmo Oliveira, as rádios comunitárias são uma excelente alternativa de divulgação, uma vez que atingem as pessoas diretamente nas comunidades. Oliveira, que é também coordenador da ABRAÇO na Paraíba, distribuiu o material informativo através das listas de discussão que a entidade mantém na internet, onde estão cadastradas mais de 500 lideranças do movimento de rádios comunitárias.

No final do mês passado, o ativista distribuiu cópias em CD dos spots de áudio, produzidos pelo Ministério da Saúde, com radialistas que participaram do 6º Congresso Estadual da ABRAÇO na Paraíba. “Pelo menos dez emissoras se comprometeram a colocar no ar a campanha sobre a doença falciforme. Nossa intenção é utilizar todos os meios de comunicação disponíveis para tentar diminuir a invisibilidade da doença na sociedade brasileira”, diz Oliveira. Nas próximas semanas a campanha será levada para emissoras comerciais da grande João Pessoa.

Os spots também podem ser baixados diretamente da internet através do seguinte link:http://www.4shared.com/dir/P2pByoLL/sharing.html


Coordenador participa de reunião em BH

9 de Setembro de 2010

Dalmo é membro do GA de hemoglobinopatias do Ministério da Saúde (foto: Fabiana Veloso)

No próximo dia 28 ocorre na cidade de Belo Horizonte (MG) mais uma reunião ordinária do Grupo de Assessoramento em Hemoglobinopatias do Ministério da Saúde. O coordenador de Comunicação da ASPPAH e da FENAFAL, Dalmo Oliveira, será um dos convidados ao evento. “Uma das pautas prioritárias deve ser a qualidade da triagem neonatal para a doença falciforme”, adianta Oliveira.

Esta é a segunda reunião esse ano do GA que define as diretrizes das políticas públicas para atenção integral às pessoas com doença falciforme no Brasil.


Em menos de 15 dias doença falciforme faz mais uma vítima na PB

4 de Setembro de 2010

Eugênio conversa com Gildásio: morte prematura (Foto: Fabiana Veloso)

Faleceu nesta quinta-feira, dia 2, o agricultor Eugenio Braga de Lima, mais uma vítima da doença falciforme na Paraíba. Ele teve complicações pulmonares depois de iniciar uma crise de dor na terça-feira passada. Após ser atendido no posto de saúde no Conde, onde residia, Eugênio foi liberado e voltou para casa, no sítio do assentamento Rick Charles.

Na quarta-feira, dia 1º, ele procurou atendimento no hemocentro de João Pessoa porque continuava com dores articulares e febre. Foi encaminhado para o Hospital de Traumas Senador Humberto Lucena, onde ficou internado sob observação. Segundo a médica Joacilda Nunes, que acompanhou Eugênio, ele aparentava está passando por uma crise branda. “Na quinta-feira pela manhã resolvi passar pelo hospital na intenção de dar alta pra ele, mas quando cheguei lá ele havia desenvolvido um quadro de insuficiência respiratória”, lembra a médica.

Eugênio teve um agravo respiratório rápido, segundo os médicos, decorrente de uma possível embolia pulmonar, vindo a falecer no meio da manhã. Ele ainda chegou a ser entubado numa tentativa de que sua capacidade respiratória fosse restaurada, mas o procedimento não surtiu efeito.

Aos 25 anos de idade, Eugênio havia sofrido um AVC em dezembro passado, que não deixou maiores seqüelas, a não ser uma piora na locomoção em decorrência do avanço de alterações articulares na região do quadril. Familiares relataram que ele reclamava recentemente de infecção urinária. Sua morte mostra a face traiçoeira, oportunista e imprevisível da doença falciforme.

Semana passada, o ortopedista Gildásio Daltro examinou Eugênio, indicando ele como um dos pacientes com prioridade para o tratamento com células-tronco que o médico baiano realiza no hospital universitário da UFBA, em Salvador. Terceiro filho de uma família de cinco irmãos, Eugênio era um jovem tranqüilo, solidário e benquisto por seus familiares e pela vizinhança humilde da comunidade onde vivia.

Seu irmão, Eduardo, de 21 anos, também sofre da doença falciforme . A irmã, Aparecida, de 24 anos, é portadora do traço falcêmico. Entre a dor da perda e da saudade, a vida continua, agora mais triste, no assentamento Rick Charles.